Ratos e homens
Marcelo Alcoforado
Asqueroso,
feio, nocivo, há cerca de dez mil anos o rato faz indesejável companhia ao
homem que, mesmo com toda a evolução, não consegue eliminá-lo. Os ratos, os
ratos quadrúpedes, por exemplo, têm vasto repertório de truques para se livrar
do homem, evitando as armadilhas. Já os bípedes, plenos da certeza da
impunidade simplesmente não as temem, embora vez por outra sejam pilhados por
elas.
Sabe
você o que os ratos mais velhos costumam fazer? Deixam que os ratos mais novos,
mais impetuosos, portanto, comam em primeiro lugar a novidade que seja servida
nos ambientes onde eles vivem. Caso não morram em um prazo que sua pilantragem
conhece, eles, então, comerão.
Lembram
os homens, quer ver? Revisite-se a história. Na Antiguidade e na Idade Média,
por exemplo, havia os provadores das comidas dos nobres, para evitar que eles
fossem envenenados.
Indo
adiante, veja-se o caso das prisões contemporâneas, em que os bandidos mais
temidos nas celas, quando querem sanar suas desavenças sacrificando outros
presos, ordenam que um dos encarcerados, normalmente o mais novo ou mais
tímido, faça o serviço, cravando o punhal no desafeto do déspota do cárcere.
Mas
o que há de comum entre os ratos e os homens? – você pode perguntar. É que
estes muitas vezes fazem o papel daqueles, com o agravante da sabujice.
Ora,
que razão faria a repugnante PEC 33 ser iniciativa de um deputado tão
inexpressivo, tão insignificante mesmo no baixo clero de que é parte?
A
deplorável verdade é que, com projeto tão ignóbil, os que querem roer a
liberdade lutam para, como é comum aos murídeos, criar atalhos como a limitação
dos poderes do Supremo Tribunal Federal.
No
livro “Ratos e homens”, que dá título a esta conversa, John Steinbeck faz uma
comparação com o poema de Robert Burns, dizendo: "São vãos os sonhos de
ratos e homens" Talvez o poeta escocês tenha razão mas, já que se falou em
sonhos, o que se deseja é que ratos fiquem com seus piores pesadelos e que os
homens de bem continuem a lutar por um Brasil melhor. É preciso, contudo, lutar
com toda a energia, porque, afinal, ratos lutam para dominar um espaço e também
as fontes de comida. Não aceitam estranhos. E muito menos a lei.
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