terça-feira, 30 de abril de 2013




Ratos e homens

Marcelo Alcoforado


Asqueroso, feio, nocivo, há cerca de dez mil anos o rato faz indesejável companhia ao homem que, mesmo com toda a evolução, não consegue eliminá-lo. Os ratos, os ratos quadrúpedes, por exemplo, têm vasto repertório de truques para se livrar do homem, evitando as armadilhas. Já os bípedes, plenos da certeza da impunidade simplesmente não as temem, embora vez por outra sejam pilhados por elas.


Sabe você o que os ratos mais velhos costumam fazer? Deixam que os ratos mais novos, mais impetuosos, portanto, comam em primeiro lugar a novidade que seja servida nos ambientes onde eles vivem. Caso não morram em um prazo que sua pilantragem conhece, eles, então, comerão.
Lembram os homens, quer ver? Revisite-se a história. Na Antiguidade e na Idade Média, por exemplo, havia os provadores das comidas dos nobres, para evitar que eles fossem envenenados.
Indo adiante, veja-se o caso das prisões contemporâneas, em que os bandidos mais temidos nas celas, quando querem sanar suas desavenças sacrificando outros presos, ordenam que um dos encarcerados, normalmente o mais novo ou mais tímido, faça o serviço, cravando o punhal no desafeto do déspota do cárcere.
Mas o que há de comum entre os ratos e os homens? – você pode perguntar. É que estes muitas vezes fazem o papel daqueles, com o agravante da sabujice.
Ora, que razão faria a repugnante PEC 33 ser iniciativa de um deputado tão inexpressivo, tão insignificante mesmo no baixo clero de que é parte?
A deplorável verdade é que, com projeto tão ignóbil, os que querem roer a liberdade lutam para, como é comum aos murídeos, criar atalhos como a limitação dos poderes do Supremo Tribunal Federal.
No livro “Ratos e homens”, que dá título a esta conversa, John Steinbeck faz uma comparação com o poema de Robert Burns, dizendo: "São vãos os sonhos de ratos e homens" Talvez o poeta escocês tenha razão mas, já que se falou em sonhos, o que se deseja é que ratos fiquem com seus piores pesadelos e que os homens de bem continuem a lutar por um Brasil melhor. É preciso, contudo, lutar com toda a energia, porque, afinal, ratos lutam para dominar um espaço e também as fontes de comida. Não aceitam estranhos. E muito menos a lei.

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