Os trunfos de
Triunfo
Ainda criança, fui levado pela
primeira vez a Triunfo por minha madrinha, Narcisa de Freitas, uma preta que
foi minha segunda mãe. Ficou no meu subconsciente apenas a poeira da maior
parte da estrada, pois àquela época, em meados da década de 50, a rodovia
asfaltada só chegava a Caruaru. Era uma verdadeira aventura viajar pelo
semi-árido pernambucano.
Anos depois, já rapazote,
passava minhas férias escolares de julho e dezembro em Triunfo, em companhia
dos meus primos – Teca, Tonho, Glorinha, Inês, Lúcia, João e Lucimary. Era uma
festa na casa dos tios Kelé e Marieta. Ia, algumas vezes, com minha mãe
Ernestina, uma triunfense legítima. A viagem sempre era de trem. Ou descíamos
em Arcoverde ou ficávamos em Flores, onde pegávamos uma sopa (pequeno ônibus)
para Triunfo. Era a sopa de seu Cesário.
Mais de uma
década depois, fui uma dúzia de vezes a Triunfo. Fazia parte do gabinete do
então governador Nilo Coelho. Normalmente, chegávamos em Triunfo à noite, após
percorrer, o dia todo, açudes, estradas, estações do Detelpe, agências do
Bandepe e uma série de obras em execução no Interior do Estado. Quando
estávamos no Sertão, dormíamos no Lar Santa Elizabeth, em Triunfo, cidade que,
em nada, se assemelhava àquela que me acostumara a vivenciar nas férias. À
noite, parecia um deserto. Alguns jovens na praça entre o açude e o Cine Teatro
Guarany. Nada mais. Não havia televisão. Dormia-se cedo.
Numa das
viagens, pedi ao governador que, mesmo nos últimos meses de seu mandato,
mandasse, pelo menos, colocar água encanada na cidade. O outro pedido, sem
tempo para ser executado, era o de transformar Triunfo num centro
universitário, como uma forma de interiorizar o ensino superior em Pernambuco.
No começo da
década de 70, era editor do Interior do Diário de Pernambuco, dividindo a
responsabilidade da editoria com a triunfense Wanessa Campos. E sempre
levantávamos, em matérias e na coluna, a necessidade de o Poder Público
incentivar as vocações do município, como turismo, cafeicultura, produção de
cachaça e rapadura e industrialização da goiaba, pois, a cada dia, Triunfo
dependia mais de Serra Talhada, perdendo autonomia econômica. Os anos se
passaram e nas vezes em que estive, com minha ex-mulher e meu filho, na Serra
da Baixa Verde para visitar meu primo João Diniz encontrava a cidade com
aspecto de abandono.
Em meados de
1991, eu e minha mulher Giselda estivemos em Triunfo a caminho de Santa Maria
da Boa Vista, onde iríamos fazer uma reportagem, na Fazenda Milano, com José
Gualberto de Freitas Almeida sobre a nova fronteira agrícola que se abria em
Pernambuco, com a implantação, pela iniciativa privada, da primeira fazenda no
semi-árido no Mundo a produzir vinho. Hospedamo-nos na ainda em construção
Pousada da Baixa Verde. Começava a se desenhar, com esse empreendimento do
casal Pedro Junior/Terezinha, uma nova época para Triunfo.
Por uma série de fatores, só
voltei a Triunfo no Carnaval de 1998, época em que se preparava a equipe da
atual Folha de Pernambuco. Formei uma caravana: meu irmão Fernando e sua mulher
Ceça; o atual diretor adjunto de redação do Jornal do Commercio, Laurindo
Ferreira; sua mulher, a jornalista Nádia Ferreira, e seu irmão, o professor
Serafim Ferreira. Ficamos no Lar Santa Elizabeth. A cidade começava a atrair pessoas
ávidas por um oásis. Longe da poluição, distante da insegurança. Junto da
tranqüilidade.
Minha prima
Teca e seu marido Bel estavam em Triunfo, decididos a investir na Serra da
Baixa Verde. Começavam a restaurar a casa em pedra da Chácara Kelé. Era o primeiro
passo para a construção do Café do Brejo. Triunfo respirava, enfim, o ar de
cidade turística. Desabrochava, sem apoio oficial, a vocação natural do
município. Os empreendimentos de Pedro Júnior e de Terezinha funcionaram como
chamariz para os novos investimentos, forçando o Governo do Estado a asfaltar o
acesso leste da cidade e a restaurar o Cine Teatro Guarany.
A cidade
ganhou o Águas Parque, um parque aquático construído também por Pedro Junior.
Não satisfeito com o que tinha feito, o empresário implantou o Engenho São
Pedro e criou a cachaça artesanal Triumph. Surgiram outros hotéis, como o
Otellin Triumph. As manifestações folclóricas, como os Caretas, passaram a
despertar o interesse da mídia recifense. Até o Hotel do Sesc voltou a ser notícia,
com a decisão de Josias Albuquerque de recomeçar as obras do centro de lazer,
paralisadas há muitos anos.
A luta da
direção do Sesc para reinício dos serviços foi árdua. Três concorrências foram
abertas, mas os perdedores impugnavam o resultado. Numa conversa informal,
Josias Albuquerque confidenciou-me que a inauguração do Sesc de Triunfo era uma
questão de honra para ele. Depois de idas e vindas, os trabalhos foram
retomados. Por conta do crescimento do turismo em Triunfo, Josias Albuquerque
resolveu transformar o projeto inicial de uma colônia de férias num Centro
Integrado de Turismo, com centro de convenções, teleférico e piscina coberta.
No São João
deste ano, eu e Giselda estivemos em Triunfo. Fomos com o casal Luiz/Neise
Montenegro e os filhos Henrique e Luiza. Lá encontramos o casal Francisco
Cartaxo/Célia Galvão e a filha Maria Eduarda. Foi uma festa. No roteiro das
visitas, estivemos na Casa das Almas, residência do juiz de Direito Assis
Timóteo e que se transformou em atração turística por ter seus cômodos na
Paraíba e em Pernambuco.
Visitantes deslumbrados e decididos a voltar, mas preocupados com o estado de conservação de longos trechos da BR-232. Passados três meses, a rodovia entre Cruzeiro do Nordeste e Sítio dos Nunes recebe camada de asfalto. Se não houver empecilhos burocráticos, o tempo de percurso deverá diminuir de seis para cinco horas, para quem não voa, e de cinco para quatro horas e meia para quem pisa fundo no acelerador. Só resta o trecho a ser duplicado entre Caruaru e São Caetano. Sua conclusão tornará a viagem a Triunfo um passeio prolongado, mas compensado com a beleza e a tranqüilidade da Serra da Baixa Verde.
* Este texto foi escrito no dia 16 de setembro de 2004. Estou o reproduzindo para ressaltar o crescimento de Triunfo no setor de turismo.
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