O aviso do Ceará não foi ouvido por Pernambuco
O racionamento na RMR foi previsto há oito anos
Os cearenses não cultuam a
filosofia do “achismo”. Eles opinam em cima de dados científicos. Não
improvisam soluções. Calculam décadas à frente. Na realidade, a transposição,
idéia defendida à época de Dom Pedro II, começou se tornar cristalina com o
Eixão, um conjunto de obras composto por uma estação de bombeamento, canais, adutoras,
sifões e túnel que realiza a transposição das águas do Açude Castanhão, por 255
quilômetros, até a Grande Fortaleza.
Cientes das previsões
cearenses, mostrávamos, no Blog Madrugador, em 15 dezembro de 2007, o alerta do
secretário de Recursos Hídricos do Ceará, Edinardo Rodrigues, sobre carência de
água no Nordeste em torno de 2010. A previsão do secretário foi divulgada pelo
jornalista Jamildo Melo, do Jornal do Commercio, do Recife, no dia 27 de maio
de 2005.
A escassez de água não se
limitaria ao semi-árido. Ela chegaria à Zona da Mata de Pernambuco e afetaria o
abastecimento da Região Metropolitana do Recife, como ocorre agora, com a
Compesa adotando racionamento em razão do baixo nível das represas que
abastecem o Grande Recife.
A ENTREVISTA
O secretário de
Recursos Hídricos do Estado do Ceará, Edinardo Rodrigues, afirmou ao JC que o
seu estado é um exemplo para o Governo Federal. "Com o Canal da
Integração, que interliga as bacias do Estado e atende 65% da população com
risco de seca, o Ceará está resolvendo o seu problema. Porque a União não
resolve ?", questiona. "No nosso caso, temos sorte. Além de decisão
política, também temos continuidade administrativa dos governos", explica.
Na sua opinião, a transposição é uma obra fundamental não apenas para os
estados receptores das águas.
"Em cinco anos, haverá um grande
stress hídrico, com o crescimento populacional do Nordeste. Por isto a água é
tão fundamental. Um dia o Recife ainda vai precisar das águas do São
Francisco", diz.
No caso do Ceará, a questão é
estratégica. "Temos
que jogar desenvolvimento para dentro do Estado (no interior) e a água é
fundamental para isto". Lá, a maior obra
neste sentido é a construção do Canal da Integração, uma obra de R$ 1 bilhão
que vai levar a água do Açude Castanhão (já concluído e que pode ser
beneficiado com as águas da transposição) para até 11 municípios. "A obra
vai garantir a Região Metropolitana de Fortaleza por 30 anos, além do distrito
industrial do Pecém", explica o
secretário.
Enquanto a Transposição
depende do humor da Presidência, o Ceará inaugurou, no dia 3 de outubro do ano
passado, o trecho IV do Eixão das Águas na Região Metropolitana de Fortaleza. O
trecho deve beneficiar com distribuição de água a população dos municípios de Cascavel,
Pacajus,
Horizonte,
Itaitinga
e Pacatuba.
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