MORRER DE SEDE À BEIRA DO RIO
A favelização dos assentamentos rurais não é novidade. Em
meados dos anos 90, estive nas vinícolas do Sertão do São Francisco, em
Pernambuco, e constatei o abandono dos projetos de reforma agrária. Na Fazenda
Catalunha, o quadro era de miséria. A prostituição imperava. Os jovens
perambulavam pelas vinícolas à cata de um serviço. O quadro era desolador. Não
havia nem água para beber, apesar da proximidade do Rio São Francisco. As
culturas de manga, uva e melão morreram.
Há seis anos, voltei à região de
Petrolina. Entre os entrevistados, José Gualberto de Freitas Almeida, dono da
Vinícola Milano, produtora dos vinhos Botticelli. Conhecedor da região,
Gualberto explica o porquê do fracasso dos projetos de reforma agrária: “Fazer assentamento
no São Francisco, por conta da reforma agrária, é uma coisa muito difícil,
porque o investimento para irrigação é muito alto. Então, um assentamento para
agricultura familiar, de subsistência, tem que ser em locais onde o colono não
vai precisar fazer irrigação na intensidade que se faz na região do São
Francisco”.
Na visão de Gualberto, “um
investimento como a iniciativa privada faz requer eficiência produtiva,
máquinas, energia elétrica abundante, água, fertilizante. Infelizmente não tem
uma política governamental que resolva isso. Faz-se um assentamento como o da
Catalunha, mas não se dá assistência ao agricultor. Nem água pra beber ele tem.
Imagine você não ter água pra beber na beira do Rio São Francisco”.
Somente agora, o ministro da Secretaria
Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, reconhece, como destaca o
editorial de O Globo, no começo do mês, o fracasso dos assentamentos dos sem
terra. Como ressalta o jornal carioca, “diante de críticas ao relativamente
baixo número de assentados nos dois anos de governo Dilma, o ministro
justificou o freio com a afirmação de que muitos assentamentos estão virando quase que favelas rurais”.
Ainda de acordo com O Globo, “a
favelização de assentamentos é denunciada nas estatísticas. Por exemplo, pelo
dado de que 36% das 945.405 famílias assentadas (ou 339.945) sobrevivem do
Bolsa Família, por terem renda abaixo do limite divisor da miséria. Se forem
consideradas famílias assentadas inscritas no Ministério de Desenvolvimento
Social para receberem algum tipo de benefício assistencial, o número sobe para
466.218, ou 49% do total. Não se realizou o sonho da redenção social por meio da
divisão de terras. Foram distribuídos 87 milhões de hectares, 10,8% do
território nacional, e, mesmo assim, metade dos assentados não sobrevive sem a
ajuda assistencialista do Estado”.
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