segunda-feira, 20 de outubro de 2008

NORTE MADRUGADOR (II)


As matérias foram postadas por Andressa Anjos, aluna do Curso de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco

FESTA EM PARINTINS

Boi Bumbá Caprichoso faz aos 95 anos nesta segunda

O Boi-Bumbá Caprichoso tem sua história atrelada a uma família. A professora e folclorista parintinense Odinéia Andrade afirma que o bumbá foi fundado em 1913 pelos irmãos Raimundo Cid, Pedro Cid e Félix Cid. Os três teriam migrado do município de Crato, no Ceará, passando pelos estados do Maranhão e Pará, até chegarem à ilha, onde fizeram uma promessa a São João Batista para obterem prosperidade no novo município. Isso foi motivado pelas influências recebidas pelos Cid durante a trajetória até a ilha, quando puderam conhecer vários folguedos juninos por onde passaram.

Duas manifestações folclóricas chamaram a atenção: o Bumba-Meu-Boi, maranhense, e a Marujada paraense. Andrade afirma que o Boi Caprichoso assimilou elementos desses dois folguedos, uma vez que o bumbá adotou como cores oficiais o azul e o branco, usadas nos trajes dos marujos, e denominou seu grupo de batuqueiros, responsáveis pelo ritmo na apresentação do boi de Marujada de Guerra.Vitórias do Boi Caprichoso: 1969, 1972, 1974, 1976, 1977, 1979, 1985, 1987, 1990, 1992, 1994, 1995, 1996, 1998, 2000 (empate), 2003, 2007 e 2008.As Toadas
Até o final dos anos 80 as toadas eram músicas cujas letras exaltavam o boi e demais personagens como Pai Francisco, a Sinhazinha, dentre outros, além de exaltarem a cultura cabocla parintinense.

No início dos anos 90, a temática indígena, já introduzida com sucesso no Boi Bumbá pelo Boi Caprichoso, ganhou mais força, principalmente com o advento dos rituais indígenas, que se tornaram o ponto alto do Festival. O Boi Caprichoso foi o que melhor utilizou a temática, alcançando grande destaque graças ao sucesso que crítica e público concederam a toadas indígenas como Fibras de Arumã, Unankiê, e Kananciuê.

Com o sucesso de tais toadas, o público da capital, Manaus, que gostava timidamente do ritmo, passou a abraçar a toada e a adotou como símbolo da cultura amazonense.No ano seguinte, o grupo Canto da Mata, composto por Maílzon Mendes, Alceo Ancelmo e Neil Armstrong, iniciou um outro estilo de toada que também tomaria conta do grande público de Manaus e de Parintins, a Toada Comercial. Em 1995, com o uso dos teclados - que tinham sido usados pela primeira vez de maneira tímida em 1994 - o grupo compôs a toada Canto da Mata, que foi um grande sucesso nas rádios e ajudou o Boi Caprichoso a vencer o Festival.

Em 1997, compuseram uma toada que se tornou fenômeno no Amazonas: Ritmo Quente, grande sucesso nos ensaios do boi e também em eventos turísticos da Capital Manaus, como o Boi Manaus e o Carnaboi, até os dias de hoje.A década de 90 representou um dos melhores momentos da história do Boi Caprichoso. De 1990 a 1999, ganhou seis dos dez festivais disputados - perdeu em 1991, 1993, 1997 e 1999. Em 1991, foi muito prejudicado pela chuva. Em 1993, segundo muitos, foi injustiçado. E em 1997, considerando a soma dos pontos dados pelos jurados à apresentação na arena, o Caprichoso teria sagrado-se novamente campeão. A derrota porém, adveio de uma penalidade imposta pelos jurados ao apresentador Gil Gonçalves, o que, se não tivesse acontecido, teria dado ao boi o pentacampeonato em 1998.

Matéria publicada no Jornal da Ilha, de Parintins – AM



SANTO PRAGMATISMO

Festividade aquece a fé e os negócios

É nesta época do ano que o comércio fatura mais com o louvor à Virgem de Nazaré
O Círio se profissionalizou porque cresceu ou cresceu porque se profissionalizou? A questão é analisada pela antropóloga e professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), Vanda Pantoja. Ela arrisca que o crescimento e a profissionalização são indissociáveis e isso não significa distanciamento da espiritualidade. Muito pelo contrário.

Vanda analisou o Círio para uma pesquisa de mestrado intitulada 'Negócios no Círio'. O foco foi a organização promovida pela diretoria da Festa de Nazaré, o que, para ela, é uma das responsáveis pelo crescimento do evento tanto em número de participantes quanto de negócios agregados a ele.

'Os volumes de dinheiro e de pessoas crescem porque o Círio tem uma organização eficiente e vice-versa; a organização se fez necessária porque o evento cresceu', diz, negando haver problema ético nessa relação. A explicação é antropológica: a mercantilização não diminui a religiosidade dos fiéis.

O comércio faz parte de qualquer festa de santo e adota regras que tentam dissociá-lo do mercantil, observa. Como exemplos, ela cita a decisão de não aceitar patrocinadores não conservadores como o setor de bebida alcóolica e a destinação de parte dos recursos angariados para as obras sociais da paróquia.

Para ela, o certo é que a festa só pôde alcançar a dimensão que tem hoje porque a organização criou uma estrutura responsável, entre outras coisas, pela captação dos recursos que custearão a festividade e as obras sociais da Paróquia de Nazaré.

Essa profissionalização é apontada no momento em que a diretoria da Festa de Nazaré inicia os preparativos para o Círio seguinte logo após o encerramento do atual. Também no momento em que a captação de patrocinadores cresce e a imagem do evento começa a ser trabalhada com recursos de marketing.

Vanda acredita que, nesse contexto, a decisão da diretoria de buscar a patente da imagem oficial da santa, ilustrada nos cartazes e camisas, é acertada. Seriam os fins justificando os meios, já que o objetivo do Círio é evangelizar.

MARKETING

A antropóloga afirma que a Igreja Católica está aprendendo a lidar o marketing, uma necessidade diante do avanço das outras religiões. Nesse aspecto, o Círio é um elemento a ser trabalhado, avalia. 'Quanto mais evangelizo, mais chances eu tenho de segurar o fiel e não deixo que ele vá para as outras religiões', observa.

Ela acredita que o Círio é um desses momentos que, se bem divulgados, reforçam a regiliosidade mesmo entre quem manifesta o credo, mas não o pratica através das idas às missas. Em cada evento, é como se esse segmento também se renovasse na Igreja católica.

Vanda diz que os instrumentos para evangelizar ou, ao menos, manter esse católico não praticante sob o domínio da Igreja, podem ser desde as procissões - cada vez agregadoras de mais segmentos como os ciclistas e motoqueiros, por exemplo - até as peregrinações realizadas cada vez mais cedo.

É considerável também, na avaliação da pesquisadora, o potencial dos meios de comunicação e da internet que transmitem o Círio para o mundo. 'Tem Círio na TV, na internet. É como se fosse impossível viver sem o Círio. A profissionalização é benéfica do ponto de vista da religiosidade', conclui.

Matéria publicada no Jornal O Liberal, do Pará



EXPLORAÇÃO

Pará é líder em trabalho escravo no Brasil

Balanço divulgado pelo Ministério do Trabalho em Emprego (MTE) mostra que, de janeiro a setembro, o Grupo Especial de Fiscalização Móvel resgatou 3,4 mil trabalhadores que estavam em condições análogas à escravidão. O resultado já é superior ao número de resgates de 2006.

Em todo o país, foram realizadas este ano 87 ações, em 149 propriedades. O estado recordista em denúncias e libertações é o Pará, com 22 operações e 532 trabalhadores resgatados nas 50 propriedades fiscalizadas pelo grupo móvel.

No período, foram lavrados quase 3 mil autos e pagos mais de R$ 6 milhões em indenizações trabalhistas. Problemas na estrutura dos alojamentos, que não são higienizados adequadamente e são desconfortáveis, estão entre as principais situações encontradas pelos auditores, procuradores e policiais federais durante as operações.

Outras irregularidades comuns são falta de equipamentos de segurança, carga horária excessiva e cobrança diretamente no salário do trabalhador de despesas com comida, equipamentos e remédios.

A forma mais encontrada de servidão continua sendo as dívidas dos trabalhadores com os empregadores, que são infinitas. Isso porque, a cada mês, os empregados têm mais despesas e, convencidos da dívida, trabalham para quitá-la.

Desde que o grupo móvel foi criado pelo governo, em 1995, foram resgatados mais de 31 mil trabalhadores. De 2003 a 2008, quase 18,5 mil foram retirados de situação degradante ou semelhante à escravidão. O recorde de libertações foi registrado em 2007, com quase 6 mil pessoas retiradas desse tipo de situação em 116 operações realizadas em todo o país.

Matéria publicada no Jornal Folha do Progresso, do Pará



Foto: Nelson Borges

SANTA TERESA

Bairro concentra uma das menores populações

Um dos bairros menos populosos da zona oeste, o bairro Santa Teresa tem 1.931 habitantes e existe desde 1989, desde que alguns terrenos foram doados pelo Governo do Estado da época, para famílias com problemas habitacionais.

A área era um lavrado e inicialmente apenas cinco famílias conseguiram construir suas casas em alvenaria, as demais, conforme levantamento histórico da Prefeitura de Boa Vista, fizeram as casas de madeira e cobertas com lona.

A dificuldade com água e energia elétrica também existia para os moradores do local. Segundo dados da Prefeitura, a energia elétrica era puxada por “gato” da avenida São Sebastião e só foi regularizada no início de 1991. Antes disso, as lideranças do bairro se organizaram para reivindicar por meio de abaixo-assinado a água encanada para os moradores. Conquista que chegou ainda no ano em que o bairro foi criado.

Conforme o levantamento histórico da Prefeitura de Boa Vista, no início, havia uma grande lagoa no Santa Teresa, que dificultava o acesso das famílias para outros bairros. Para escoar a água, em 1991, o Governo da época fez uma vala e transformou a lagoa em campo de futebol.
As ruas do Santa Teresa referem-se a nomes de peixes. Os moradores antigos entrevistados pela equipe de Reportagem da Folha não souberam explicar o porquê desta denominação escolhida, mas dizem-se satisfeitos com a homenagem às várias espécies de peixe.

O Santa Teresa fica próximo aos bairros Tancredo Neves e Primavera. Conforme levantamento da Prefeitura, 48,4% da população com mais de 16 anos é dona-de-casa; 27% é estudante e 16,5% é aposentado ou pensionista.

Entre os chefes de família, a maioria (70,6%) é formada por homens e apenas 29,4% por mulheres. Quando o assunto é situação ocupacional destes chefes de família, 57,5% deles são aposentados ou pensionistas e 34,50% são do lar.

Assim como grande parte dos bairros que surgiram após a avenida Venezuela, os primeiros moradores do Santa Teresa também eram oriundos de estados nordestinos, com predominância maior para o Maranhão. Havia também grande incidência de famílias do Piauí.

Matéria publicada no Jornal Folha da Boa Vista, de Roraima

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