terça-feira, 21 de outubro de 2008

O PASSEIO DO MATUTO QUE VIAJOU PELA PRIMEIRA VEZ AO EXTERIOR


José Torres, jornalista caruaruense e repórter itinerante pelo Interior de Pernambuco, estado do Nordeste brasileiro, atravessou o mundo para encontrar filho, filha, genro, nora e a recém-nascida neta Júlia em Adelaide, cidade do sul da Austrália. Vejamos o relato:

INÍCIO DE TUDO

Adelaide-South Australia (José Torres) – Quando eu era criança viajava através das páginas dos livros escolares lá na sala de aula do Grupo Escolar Prof.Vicente da Silva Monteiro, no interior de Pernambuco. Na minha cabecinha inocente de matuto, o meu mundo se restringia à minha cidade, minha rua, minha casa e minha escola. Nada além do horizonte, quanto mais além do oceano atlântico que estava ali bem pertinho, a 130 km, Recife, capital do Estado.

Depois, as coisas foram acontecendo. Me dei conta que o mundo era mais além da pacata Caruaru (foto) de outrora. Casei, gerei filhos e vaguei por muitos lugares do meu Brasil querido. Fiquei maravilhado com as coisas que vi nos estados que percorri. Os filhos foram crescendo e cada um pegando o seu rumo, daí apareceram os netos. Eu já alquebrado pelo tempo, um casal de filhos comunica que vai deixar o país. Decidiram lutar pela sobrevivência em outras plagas. Fui ver no mapa onde ficava essa tal de Austrália que eles escolheram para morar. Um gosto amargo assolou minha boca quando fui ao aeroporto me despedir de ambos e de seus respectivos cônjuges. Tinha uma convicção de que não os veria mais, a não ser pelo milagre da comunicação via internet.


MUITO MAR

Estava enganado. Aqui estou eu e minha mulher Maria do Socorro, visitando os filhos e paparicando a mais nova integrante da família, Julia, nascida no último dia 14 de outubro. Para chegar até aqui, foi um longo caminho percorrido. Como não domino a língua inglesa, os problemas haveriam de aparecer. Recife-São Paulo-Santiago do Chile-Auckland-Sydney e finalmente Adelaide. Quase 24 horas de vôos, e escalas. Sendo o trajeto Santiago-Auckland(Nova Zelândia) o mais chato de todos. 13 horas de vôo, a maior parte do tempo sobre o oceano pacífico e uma noite que não acabava nunca. Tudo na penumbra. Nada tinha para se admirar lá de cima, a não ser aquele imenso lençol de águas do pacífico.


A AGONIA NA BELA SIDNEY

Na escala de Auckland, tive a ajuda de uma mineira, Maria Luiza, que também estava se destinando à Austrália para aprimorar o seu inglês. “No problem”, como dizem os australianos, porém, em Sydney, Luiza teria que pegar outra conexão e eu, bem, eu orientado pelos filhos e parentes, sabia que teria de catar as malas e passar pela alfândega. Conosco também estava uma paulistana que iria para a mesma cidade, Adelaide e fomos todos pegar as malas. As malas de Alzenir, a mulher que nos acompanhava, apareceram de imediato, já as nossas malas estavam faltando duas.
Aí começaram os meus problemas. Como me comunicar com alguém reclamando as duas malas? Lembrei que no aeroporto em São Paulo, Rui Sérgio, meu sobrinho, escrevera numa folha de papel A-4 em inglês que eu não falava o idioma da Rainha Elizabeth e portanto quem lesse aquela coisa, me ajudasse. Procurei um policial que leu e através de mímicas disse o desaparecimento das malas. Me encaminhou para outro policial, agora do sexo feminino que mais parecia as descrições que Chico Anysio fazia: “Media dois metros de altura por três de largura, um verdadeiro guarda-roupa”. Mandou que a acompanhasse. Arrastando dois carrinhos de malas e mais Alzenir com sua malas e minha esposa. Voltamos aonde deveríamos ter carimbado o passaporte e o atendente anterior não o fizera. Como explicar, se não falava inglês. Me pediram as passagens e os tickets das bagagens.
Eles entenderam o que estava ocorrendo, porém eu, não. Ela mandou que a acompanhasse de novo. Lá vamos nós três empurrando carrinhos de bagagens pelos corredores do enorme aeroporto de Sydney até chegar num funcionário da Qantas, empresa pela qual estávamos viajando. Lá o sujeito querendo ficar com minhas bagagens e eu sem querer entregar e com gestos perguntava pela as outras duas malas desaparecidas. Vencido pelo cansaço resolvi deixar as bagagens e Alzenir com o moço da Qantas e segui mais uma vez a policial, juntamente com Maria do Socorro. No outro extremo do Aeroporto, ela me indicou uma entrada que seria de embarque de tranferência de vôos internacionais.
A partir daí fiquei nervoso. E minhas bagagens? E Alzenir que ficara lá? E o sujeito da Polícia Federal sem entender nada e eu menos ainda. Fazia gestos e mais gestos, e nada. Deixei minha mulher naquela sala e voltei correndo como um louco pelo aeroporto até chegar próximo onde tinha deixado minhas malas e Alzenir. E quem foi que apareceu? Ela, a policial, de novo. Abriu aqueles enormes braços e grunhiu alguma coisa em inglês, coisa totalmente desnecressária pois não estava entendendo nada. Fiz gestos tentando perguntar por Alzenir e ela só respondia com o braço estendido na direção de onde eu viera: “To Adelaide” e com outro braço balançava negativamente em relação à mulher a quem estava procurando. Voltei desolado e passei pela inspeção da Polícia Federal com destino à sala de embarque do vôo.


AGRADECIMENTO À AUSTRÁLIA

Mesmo entendendo o que tinha ocorrido, ainda ficava a expectativa de saber se realmente as quatro malas estariam lá no desembarque no aeroporto de Adelaide, fato que confirmamos positivamente. Ao avistar os familiares e amigos brasileiros que nos foram dar as boas vindas, imitei o gesto do Papa João II nas suas perigrinações pelo mundo. Ajoelhei e disse para quem quisesse ouvir e me entendesse em português: “Bendito seja o solo que acolheu os meus filhos”.
Estava encerrada a primeira experiência em vôo internacional do matuto nascido na Rua do Cafundó, na cidade de Caruaru, a conhecida Capital do Agreste pela sua feira famosa divulgada por Luiz Gonzaga numa composição de Onildo Almeida e pela maior festa junina do mundo. (José Torres, radialista, 65) Imitando o gesto do Papa João Paulo II em suas viagens internacionais. "Abençoado seja o solo que acolheu meus filhos".

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