sábado, 29 de dezembro de 2007

NINGUÉM DEU ATENÇÃO AO PADRE LEBRET


Há quase sete anos, o então presidente do Complexo Portuário-Industrial de Suape, Sérgio Kano, reeditou o livro “Estudo sobre Desenvolvimento e Implantação de Indústrias, interessando a Pernambuco e ao Nordeste”, resultado de um estudo sócio-econômico do frade dominicano Louis Joseph Lebret, encomendado, em 1954, pela então Comissão de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco – Codepe – e agora conhecida pela sigla Condepe.

Sabe o que religioso francês propunha há quase 54 anos? A implantação de um porto industrial ao Sul do Recife (Suape); a criação de cidades-barreiras, as quais reteriam as populações rurais no Interior, evitando o inchaço do Recife; a transformação de Petrolina no elo de ligação entre a bacia do São Francisco e o mar; a criação de uma indústria farmacêutica; a instalação de um estaleiro e a construção de uma refinaria de petróleo.

O complexo portuário-industrial de Suape só começou a sair do papel entre a transição dos governos Nilo Coelho e Eraldo Gueiros, portanto 16 anos após as conclusões de Lebret. As cidades-barreiras nunca foram definidas nem implantadas, acelerando o êxodo desordenado para o Recife. Petrolina transformou-se num centro dinâmico do sub-médio São Francisco muito mais pelo empenho da família Coelho do que qualquer outra coisa. A indústria farmacêutica pernambucana começou a ser pensada com a criação do Lafepe no primeiro Governo Arraes, portanto 10 anos depois de prevista. O estaleiro nasceu muito mais de uma decisão empresarial, apoiada por gestões do ex-secretário de Ciência e Tecnologia, Cláudio Marinho, e a refinaria surgiu muito mais pelo interesse da Venezuela do que por uma ação isolada da Petrobrás.

Ora, um Estado que leva mais de meio século para concretizar obras previstas por um especialista em economia não pode reclamar, agora, do atraso social e econômico. Nós, os pernambucanos, temos culpa: aceitamos, passivamente, erros de vários governos, sem que encontremos soluções a curto prazo.

Mas não fiquemos decepcionados totalmente, pois as propostas do dominicano, partidário da escola “Economia e Humanismo”, também não foram implementadas em São Paulo, resultando no caos em que se transformou a capital paulista. A crítica, feita no começo deste ano pelo frei Carlos Josaphat, pode ser resumida nestas palavras: “Não encontramos mais na Prefeitura de São Paulo uma linha sequer do plano de Lebret. Então, eu considero isso como uma grande calamidade, para não dizer um crime, e uma chance que São Paulo perdeu. Portanto, ainda hoje, podemos re-estudar o Padre Lebret, embora a urbanização hoje seja infinitamente mais difícil de retificar que no tempo dele”.

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