A distância entre o Recife e as “capitais sertanejas” do Araripe e de Petrolina aumenta à medida que os litorâneos limitam suas ações à área metropolitana. Isso tem como reflexo uma perda, pelos habitantes de cidades mais distantes da capital, do sentimento de pernambucanidade, tão decantado pelos recifenses, mas nunca ampliado para o Estado.
Esse distanciamento reflete-se na economia e nas manifestações culturais. Um exemplo é a música Leão do Norte, de Lenine e Paulo César Pinheiro e uma das canções do Acústico MTV, ganhador do Grammy Latino como o melhor álbum pop contemporâneo. A letra vai no máximo até Nova Jerusalém. Ela é uma evocação dos pernambucanos da capital e da Zona da Mata. Do Agreste, canta-se quase nada; do Sertão, nada se fala.
Há três anos, ao entrevistar Patrícia Coelho, diretora da TV Grande Rio, de Petrolina, constatei a reação dos sanfranciscanos ao pouco caso dos recifenses com o Interior, o que termina por gerar uma aversão a Pernambuco, um sentimento que toma corpo e se materializa na pregação de um Estado do São Francisco.
Apesar de alguns governadores alardearem a necessidade de aproximar o Sertão do Litoral somente um alcançou algum resultado: Nilo Coelho. Ele conseguiu, com o então ministro dos Transportes, coronel Mário Andreazza, asfaltar quatro rodovias federais em Pernambuco, o que reduziu o tempo de uma viagem entre o Recife e Petrolina.
À época, como editor do Interior do Diário de Pernambuco, acompanhei essas obras, ao viajar várias vezes com o governador Nilo Coelho por todas as microrregiões do Estado. Vivenciei seu entusiasmo, numa solenidade em Salgueiro, na inauguração, quase no final do seu Governo, do asfalto das rodovias BR-232 (de Arcoverde a Salgueiro) e BR-116 (De Salgueiro ao trevo do Ibó). Meses antes, em meados de 1970, estivera na conclusão das obras da BR-428 (Do trevo do Ibó a Lagoa Grande) e das BRs-122/428, de Lagoa Grande a Petrolina. Tudo abençoado pelo Frei Damião.
Era um barranqueiro (nome dado a quem nasce às margens do Rio São Francisco) olhando para todo o Estado. Não se limitava a ver apenas o mar. Se não fossem as obras de Nilo Coelho, a separação física e comportamental entre os dois Pernambuco – o da capital e o do Agreste e do Sertão - seria ainda maior.
Ele atraiu para o Sertão do São Francisco empreendedores que, amparados por uma infra-estrutura (rodovias, eletrificação, sistema de irrigação e comunicação), investiram em projetos na região.
A lição de Nilo Coelho, que está completando 40 anos, não foi aprendida nem apreendida (ficar presa na cabeça). E um exemplo disso está nas ações e nos gestos, como o da 66ª Exposição Nordestina de Animais e Produtos Derivados.
Sabem por quê? Porque pela programação enviada à imprensa, não há referência a pesquisadores da Embrapa Semi-Árido, sediada em Petrolina, nem qualquer palestra sobre a fruticultura irrigada, com ênfase no cultivo da uva (foto do site da Codevasf), e a produção de vinhos, o grande diferencial no momento da economia do submédio São Francisco.l
Não se venha dizer que a mostra é de animais e produtos derivados, não havendo espaço para a agricultura, pois na programação há palestras sobre agricultura orgânica, biodiesel/matérias primas atuais e floricultura.
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
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