sexta-feira, 30 de novembro de 2007

BIÓLOGO POTIGUAR QUESTIONA TRANSPOSIÇÃO


O debate sobre a transposição do rio São Francisco, ou seja, a integração das bacias do Ceará com a do Velho Chico, na reunião regional da SBPC, em Petrolina, descambou para a seara político-ideológica, com um molho capitalista no meio. Ou seja, a transferência de água do São Francisco não beneficiará os 12 milhões de moradores das áreas inóspitas do semi-árido, mas atenderá às necessidades dos residentes na Grande Fortaleza e à demanda por água das empresas do complexo industrial-portuário de Pecém, diga-se a siderúrgica cearense.

Recorrendo aos argumentos ecológicos e desfraldando a bandeira da discussão democrática, “em lugar do autoritarismo do Governo Federal”, o professor Nelson Marques, da UFRN, optou por uma postura menos incisiva, talvez para não entrar em choque direto com as lideranças políticas potiguares, defensoras intransigentes do projeto, principalmente as que têm redutos eleitorais no entorno da barragem Armando Ribeiro Gonçalves, para onde, teoricamente, iria parte da água do São Francisco.

O biólogo Nelson Marques externou sua posição na mesa-redonda “Divulgação e Popularização da Ciência”, ao apoiar dom Luiz Cappio na luta contra a transposição, baseada em três pilares: o alto custo da obra, a inexperiência do Brasil em projetos desse porte e a forma impositiva e autoritária como vem sendo coordenada.

Apesar de os argumentos do professor apresentarem alguns pontos frágeis, três aspectos ficam claros na disputa entre os contra e os a favor da “integração das bacias”: a guinada da esquerda do PT; a omissão da direita, certamente por conta dos ganhos das empreiteiras com as obras, e o alheamento de parte das organizações populares diante de um projeto que, se fosse executado por outro presidente, seria tachado logo de “manobra do imperialismo”.

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