Nós, os pernambucanos, deveríamos cultuar nossos poetas, aclamados por esse mundo afora. São muitos, dos populares aos clássicos, se assim podemos classificar o artista da palavra, ao escrever poema, uma forma de expressão que não requer diploma. Só um requisito é necessário: ter o sentimento do mundo, numa definição irretocável do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade.
Vivos ou mortos, os poetas sempre nos inspiram, povoam nossa imaginação, habitam nossos sonhos. São muitos em Pernambuco. Na extensa relação, lembro de Alberto da Cunha Melo, Carlos Pena Filho, Joaquim Cardoso, Manuel Bandeira, Mauro Mota e João Cabral de Melo Neto.
Como forma de homenageá-los, vamos publicar semanalmente um poema que fale de Pernambuco, de seu povo, de seus costumes, de sua terra.
Vamos começar com a poesia “As facas pernambucanas”. À semelhança de um bisturi, a faca usada por João Cabral de Melo Neto disseca a alma pernambucana.
O Brasil, qualquer Brasil,
quando fala do Nordeste,
fala da peixeira, chave
de sua sede e de sua febre.
Mas não só praia é o Nordeste,
ou o Litoral da peixeira:
também é o Sertão, o Agreste
sem rios, sem peixes, pesca.
No Agreste e Sertão, a faca
não é a peixeira: lá,
se ignora até a carne peixe,
doce e sensual de cortar.
Não dá peixes que a peixeira,
docemente corta em postas:
cavalas, perna-de-moça,
carapebas, serras, ciobas.
Lá no Agreste e no Sertão
é outra a faca que se usa:
é menos que de cortar,
é uma faca que perfura.
O couro, a carne-de-sol,
não falam língua de cais:
de cegar qualquer peixeira
a sola em couro é capaz.
Esse punhal do Pajeú,
faca-de-ponta só ponta,
nada possui da peixeira:
ela é esguia e lacônica.
Se a peixeira corta e conta,
o punhal do Pajeú, reto,
quase mais bala que faca,
fala em objeto direto.
João Cabral de Melo Neto nasceu na cidade do Recife - PE, no dia 09 de janeiro de 1920, na rua da Jaqueira (depois Leonardo Cavalcanti), segundo filho de Luiz Antônio Cabral de Melo e de Carmem Carneiro-Leão Cabral de Melo. Primo, pelo lado paterno, de Manuel Bandeira e, pelo lado materno, de Gilberto Freyre. Passa a infância em engenhos de açúcar. Primeiro no Poço do Aleixo, em São Lourenço da Mata, e depois nos engenhos Pacoval e Dois Irmãos, no município de Moreno.
Veja biografia de João Cabral de Melo Neto no endereço
http://www.releituras.com/joaocabral_bio.asp
Nenhum comentário:
Postar um comentário