O turismo em Pernambuco, como segmento econômico gerador de emprego e renda, ao atrair visitantes às terras pernambucanas, é como a linha do horizonte: nunca é alcançada. As ações feitas sempre são questionadas. As previstas, criticadas antes de executadas. Os que fazem o turismo em Pernambuco ainda não chegaram a um consenso sobre o principal atrativo do Estado: turismo de negócios, binômio sol e mar ou cultura. Pelo jeito, a tese dos caranguejos pernambucanos prevalece no turismo: cada um puxando para baixo o que tenta alcançar as bordas da lata.
Até pessoas que vêm de fora, como o cearense Allan Aguiar, atual diretor comercial da Empetur, se acha no direito de jogar mais lenha na fogueira. Em artigo publicado no Blog de Jamildo ele desanda o setor no Recife, ao afirmar “A enorme massa de turistas que desloca-se em busca de sol e praia (lazer/entretenimento) , dirige-se a outros destinos, dentre outros motivos, pela imagem equivocada e fartamente alimentada apontando a insegurança, desanimação e praias repletas de tubarão”.
Ora, se o turismo no Recife ainda luta para chegar à inalcançável linha do horizonte, o que dizer desse setor no Interior, onde os avanços alcançados até agora se deveram única e exclusivamente à ação de alguns idealistas? O pessoal da Mata, Agreste e Sertão não se ilude em querer alcançar a linha do horizonte.
Eles são idealistas, mas, paradoxalmente, tinham ou têm os pés no chão: Plínio Pacheco, em Nova Jerusalém; os hoteleiros de Gravatá e de Porto de Galinhas; o empresário Pedro Junior, em Triunfo; os vitivinicultores e empreendedores de Petrolina, Santa Maria da Boa Vista e Lagoa Grande; os artesãos e os produtores culturais de Caruaru e os artistas plásticos de Olinda.
Revoltado com as declarações do cearense Allan Pires, à frente da diretoria comercial da Empetur, o hoteleiro e presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), secção Pernambuco, José Otávio Meira Lins posta artigo Pneumotórax para o titular do Blog Madrugador. Leiamos:
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico: - Diga trinta e três. - Trinta e três... trinta e três... trinta e três... - Respire. - O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. - Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? - Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Poeta pernambucano Manoel Bandeira.
Há algum tempo atrás, em uma reunião na Diretoria da Empetur, ouvi de um diretor-comercial da casa – aquele que antecedeu ao atual – que não havia nada que fazer pelo turismo do Recife e como tal para todos os 84 meios de hospedagem – 11.000 apartamentos – 28.000 leitos – fincados na nossa capital (olha que não saquei os empregos diretos e indiretos e outras coisas mais).
Hoje, sou novamente surpreendido por uma saraivada de frases escritas (não faladas), do atual (não o anterior) diretor-comercial da Empetur que me lembraram aquela nefasta reunião:
“Nosso portão de entrada, a bela capital, não consegue se firmar no Brasil e no mundo como um destino competitivo”.
“Em qualquer ranking, seja de demanda, seja de oferta, Recife mantém-se em precária quarta posição dentre as capitais nordestinas, podendo perder essa posição para Maceió no médio prazo”.
“Re-hierarquizar as prioridades na alocação de cada centavo junto ao setor. Frente a todas as demais capitais do nordeste, a Prefeitura de Recife vem dando seguidos exemplos que o segmento é, de fato, uma prioridade comprovada pelos vultosos orçamentos anunciados”.
“Resta entender porque os sinais vitais do paciente não respondem aos medicamentos ministrados”.
“Por que o fluxo de brasileiros e estrangeiros é inelástico ao esforço de promoção que nossa capital implementa em múltiplos mercados emissores, no âmbito da campanha "Recife é Aqui"? “
“Somas expressivas vêm sendo aplicadas sem que os números respondam positivamente”.
A disposição da nova diretoria comercial – as frases acima dizem tudo – me parece muito com a da anterior diretoria.
Chamo atenção para o fato de que a hotelaria do Recife - que passou tantos anos tendo que suportar não só a empáfia daquele diretor comercial (o anterior) como a total falta de apoio - não concorda que o esforço feito pela Secretaria de Turismo Municipal e a Prefeitura do Recife, com projetos como o “Recife é Aqui” (administrado conjuntamente com a ABIH e o Recife Convention) sejam ““Somas expressivas (que) vêm sendo aplicadas sem que os números respondam positivamente”.
Reposicionamento de produto turístico – com um enfoque que não se contenta em usar sol/mar como único produto turístico – não é coisa que se faz da noite para dia.
É coisa que se faz com foco mercadológico (não com blá-blá-blá político); se faz com orçamento de R$ 100 milhões; se faz com um “Projeto Turístico do Recife” formatado em conjunto com o trade.
Agora, tem algumas frases de Alan Aguiar que faço como minhas:
“Enquanto a agenda mercadológica não se impor frente a agenda política, não avançaremos”.
“Enquanto gestores públicos priorizarem ações inócuas que objetivem tão somente notabilizá-los e visibilizá-los junto a formadores de opinião internos, continuaremos a contar desempenhos pífios”.
“O reconhecimento e o aplauso devem condicionar-se ao balanço da gestão que revele o comportamento dos agregados turísticos, jamais a barulhos de ocasião de programas sem sentido”.
“Propor mudanças no modelo mental não é tarefa fácil”.
“Significa desintoxicar um organismo que ao longo de décadas adquiriu alguns vícios que o afastaram de uma vida saudável”.
“Como tudo na vida, a mudança proposta é uma questão de escolha dos tomadores de decisão”.
“É chegado o momento de substituir o amadorismo e a politicagem pela sincera responsabilidade social”.
“Incorporar na gestão pública do turismo as melhores práticas que consagraram destinos nacionais e internacionais que colocaram o tema no centro do debate sobre o modelo de desenvolvimento econômico. Proponho a eliminação do Gap entre o aparente e o oculto”.
Precisamos mesmo é ver resultados - não este blá-blá-blá em que parece estar enredado nosso diretor-comercial - sob pena de no final a única coisa a fazer seja tocar um tango argentino.
José Otávio de Meira Lins.
Presidente da ABIH-PE.
sábado, 20 de outubro de 2007
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