terça-feira, 30 de outubro de 2007

CADÊ O SORGO PERNAMBUCANO?

Nós, os pernambucanos, pecamos pela pressa de anunciar nossas idéias, mas demoramos em sua implementação. O exemplo mais novo desse hiato entre o falar e o fazer está na cultura do sorgo, o quinto cereal mais importante do mundo, perdendo, pela ordem, apenas para trigo, arroz, milho e cevada.

No momento em que duas das maiores empresas especializadas na industrialização de alimentos no País – Sadia e Perdigão – instalam unidades no interior do Estado, alguns entraves persistem, principalmente na produção agropecuária. A Sadia vai importar matéria-prima (carne de frango e de porco) do Sul e do Centro-Oeste para a fábrica de embutidos a ser construída em Vitória de Santo Antão.

Sabem por quê? Os abatedouros locais não têm condições de atender a demanda da Sadia. Resposta do setor agrícola dada pelo presidente da Associação Avícola de Pernambuco, Antônio Corrêa de Araújo, ao revelar a principal dificuldade do setor – a importação de milho e soja para alimentar as aves. Na realidade, o milho utiliza caminhões e navios entre o Mato Grosso do Sul e o Recife. Resultado: o preço da matéria-prima é maior em Pernambuco.

Aqui entra a história do falar e do fazer. Lembro-me que nas três oportunidades em que fui assessor de Imprensa da Secretaria de Agricultura em Pernambuco questionava-se a dependência da avicultura estadual ao milho e à soja. Nesse tempo, em torno de 25 anos, pouco se fez para resolver o impasse.

Experiências algumas, como aconteceu no Araripe à época de Pedro Eugênio na Secretaria de Agricultura. Estive na chapada do Araripe para observar um campo experimental de soja e preparar o material para a Imprensa. O que avançou? Pelo jeito, nada, pois além de pernambucano falar mais que fazer, ainda cultiva a idéia de que, se o adversário político iniciou esse programa, é hora de desacreditá-lo.

Anteriormente, ao prestar assessoria ao secretário Aloísio Sotero, vivenciei várias experiências com o sorgo. Depois, como repórter de sucursais de jornais e revistas nacionais, fiz matérias sobre o assunto. Na coluna de economia no Diário de Pernambuco, encampei a luta da Avipe em prol de um programa do sorgo.

Sabe o que aconteceu? O programa, que permitiu no ano passado a produção de 20 mil toneladas de sorgo, está em compasso de espera. E olhe lá que 20 mil toneladas representam menos de 3,5% do que a avicultura local necessita, algo em torno de 600 mil toneladas.

O detalhe disso tudo é que o Sertão do Araripe dispõe de área suficiente para a auto-suficiência pernambucana na produção de sorgo. O que falta? Decisão política, vontade empresarial e apoio ao agricultor.

É por isso que a Sadia vai importar matéria-prima.

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