Navio, era. Será um país?
O artigo “RMS Titanic, de Elton Simões e postado por Ricardo
Noblat, em seu blog, recorre a um fato trágico da história da Humanidade para
levar o leitor a uma reflexão. Você pode transpor o caso do transatlântico a
uma família, a uma unidade de ensino, a um diretor de uma empresa e até a um país.
Quem manda é o freguês.
Vamos embarcar no Titanic de Elton Simões, que mora no
Canadá, é formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA
(INSEAD) e mestre em Resolução de Conflitos (University of Victoria).
Se fosse possível identificar uma causa isolada. Se houvesse
um culpado. Se a causa tivesse sido um simples erro humano, falha mecânica, ou
um ato de Deus, como gostam os juristas, seria mais uma tragédia. Entraria para
a historia como estatística e não como drama.
O naufrágio
do RMS Titanic escapa da memória estatística e faz parte da memória coletiva
como um drama. Acima de tudo, o naufrágio foi consequência de uma sequência de
decisões e premissas equivocadas tomadas antes e durante o naufrágio.
Nele, o
iceberg foi apenas um detalhe. Entrou para a história e para a memória coletiva
como sinônimo de tragédia que poderia ter sido evitada pela simples ação
daqueles que estavam em posição de decisão.
Desastres
como este, em geral, acontecem em câmera lenta. Os erros vão se encadeando como
consequências de decisões baseadas em conveniências e, quase sempre, tomadas a
revelia dos fatos.
De muitas
formas, o Titanic é uma metáfora sobre as consequências de transformar questões
meramente técnicas em assuntos políticos onde interesses, e não as
necessidades, são os critérios para tomada de decisões.
Os erros
foram se acumulando. O design privilegiava o luxo as expensas da segurança. A
hipótese de naufrágio não foi seriamente considerada. O Titanic, afinal, era
grande demais para fracassar.
Ignorou-se
o ambiente. Naquela região, icebergs flutuam abundantemente. Entretanto,
decidiu-se prosseguir na maior velocidade possível.
Decidiu-se,
com em muitos outros casos, ignorar os problemas como se eles fossem
desaparecer natural e magicamente. Esquecerem de combinar com os icebergs.
Os
indicadores foram ignorados. Quando a colisão já havia acontecido, os
interesses falaram mais alto. A decisão foi tentar continuar a jornada sem
alertar passageiros ou buscar reparos.
A imagem da
empresa dona do navio teve prioridade a realidade da gravidade da situação. Foi
o triunfo do interesse sobre a necessidade.
Enquanto a
água lentamente tomava conta do navio e condenava todos a bordo a experimentar
os horrores do naufrágio, a gravidade da situação não era endereçada. Os
passageiros ainda, alegremente, continuavam normalmente suas vidas a bordo com
a tranquilidade que somente a ignorância pode garantir.
O naufrágio
do Titanic deixou a realidade para ser um mito. Serve de alerta e ilustra as
consequências de ignorar sinais negativos quando a conveniência politica (ou
econômica) assim dita. Por isso, tudo parece bem até o ponto em que não está
bem. Mas ai, normalmente, já é tarde.
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