sexta-feira, 19 de abril de 2013




CASUÍSMO LEMBRA NAZISMO

Estou no jornalismo desde 1966, ainda como estudante na Universidade Católica de Pernambuco. Como editor do Interior do Diário de Pernambuco, passei pelo desprazer de ter matérias vetadas por um estudante de Medicina, vizinho de apartamento num prédio no bairro da Torre, no Recife. Ele chegava na hora de fechamento da Primeira Página para vetar matérias.

Vi, anos depois, já no Curso de Economia da Universidade Federal de Pernambuco, um aluno como dublê de integrante das chamadas “forças de segurança” tomando um susto ao se deparar comigo na redação do Diário de Pernambuco. Depois disso, nunca mais foi visto nas aulas de Economia. Deixou de ir à redação do Diário.


 Isso me vem à memória ao constatar que a palavra “casuísmo” volta, sob outro nome, a ocupar espaços na mídia nacional. Durante a ditadura, era ela utilizada pela oposição, da qual fiz parte ativa como filiado do MDB de Pernambuco, para designar as medidas criadas pelos generais-presidentes para reduzir, cada vez mais, os espaços oposicionistas.

Ao ler hoje, logo cedo, o contundente comentário de Josué Nogueira, no Diario de Pernambuco, o “casuísmo” voltou a povoar minhas lembranças. O colunista analisa as articulações do PT para inibir a criação ou junção de partidos de apoio aos candidatos oposicionistas nas eleições presidenciais.

Separei dois trechos da coluna para sedimentar a preocupação de quem viveu em época de ditadura.

A questão torna-se mais acintosa porque o partido – leia-se governo federal – é um dos protagonistas da manobra que rasga a regra eleitoral vigente ao impedir que novas legendas tenham direito ao tempo de TV e ao fundo partidário...Na madrugada da quinta-feira, um discurso do deputado Raul Henry (PMDB-PE) no plenário jogou luz sobre o casuísmo e deu o tom de indignação de parte da Câmara. Ele disse jamais ter visto violência tão grande contra os valores democráticos, “violência que procura exterminar o adversário”.

E, após ter ouvido de um deputado do PT que na democracia o que vale é a força da maioria contra a minoria, foi certeiro nos argumentos para rebater o desvario. “Se esse conceito fosse verdadeiro, seriam consideradas democracias dois regimes que vivem no lixo e na sarjeta da História: o fascismo de Mussolini e o nazismo de Hitler, em que a maioria se sobrepunha à minoria”.


Josué conclui com duas palavras, “Sem mais’, as quais traduzem um sentimento expresso por George Orwell na obra “1984”. Seu personagem Winston vive aprisionado na engrenagem totalitária de uma sociedade completamente dominada pelo Estado...De fato, a ideologia do Partido dominante em Oceânia não visa nada de coisa alguma para ninguém, no presente ou no futuro. O'Brien, hierarca do Partido, é quem explica a Winston que "só nos interessa o poder em si. Nem riqueza, nem luxo, nem vida longa, nem felicidade: só o poder pelo poder, poder puro".

O’Brien certamente não conhecia o mensalão.

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