OS EFEITOS DO IPI REDUZIDO
O
Ministério da Fazenda confirmou neste sábado a prorrogação das atuais alíquotas
do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para automóveis e caminhões
até 31 de dezembro de 2013. A medida representa uma renúncia fiscal adicional
de R$ 2,2 bilhões de abril a dezembro de 2013. Apesar de o Governo argumentar
que o objetivo da redução é manter o aquecimento da produção e controlar a
inflação, o mercado tem dúvidas sobre o impacto da prorrogação. O Governo com
essa medida, divulgada através de nota à Imprensa, “não só estimula o setor
automotivo, um dos principais motores da economia, como toda a cadeia
automobilística, como as indústrias de autopeças, de estofamento e de
acessórios".
Mas, a
desoneração prejudica os Estados que não contam com montadores de veículos
(carros, utilitários, caminhões, máquinas agrícolas e motocicletas), pois a
indústria automobilística concentra-se no Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro,
Minas Gerais), no Sul (Rio Grande do Sul e Paraná) e no Centro-Oeste (Goiás).
Fora desse eixo, somente a Bahia e o Ceará contam, cada um, com uma montadora.
No Norte, o Amazonas polariza a produção de motocicletas e contabiliza, ainda,
a produção de veículos da Effa.
DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS MONTADORAS
Estados
|
Montadoras
|
Montadoras
|
Montadoras
|
BA
|
Ford
|
-
|
-
|
CE
|
Ford/Troller
|
-
|
-
|
GO
|
CAOA
|
John Deere
|
Mitsubishi
|
MG (a)
|
CNH/New Holland
|
Fiat
|
Iveco
|
MG (b)
|
Mercedes
|
||
PR (a)
|
CNH/New Holland
|
Fiat
|
Nissan
|
PR (b)
|
Renault
|
VW
|
Volvo
|
RJ (a)
|
MAN
|
VWCO
|
PSA
|
RJ (b)
|
Peugeot/Citroen
|
||
RS (a)
|
AGCO
|
Massey/Ferguson (2)
|
Agrale
|
RS (b)
|
GM
|
International
|
John Deere
|
SP (a)
|
Caterpillar
|
CNH/New Holland
|
Ford (2)
|
SP (b)
|
GM (2)
|
Honda
|
Hyundai
|
SP (c)
|
*Karmann-Ghia
|
Komatsu
|
Mercedes
|
SP (d)
|
Scania
|
Toyota (3)
|
Valtra
|
SP (e)
|
VW (3)
|
* Karmann-Ghia A fábrica no
ABC paulista alegava,
em setembro de 2012, não produzir nenhum tipo de veículo
em setembro de 2012, não produzir nenhum tipo de veículo
Estado |
Montadoras
|
Montadoras
|
Montadoras
|
AM
(a)
|
BMW
(Dafra)
|
Bramont
(Mahindra)
|
Dafra
|
AM
(b)
|
**Effa
|
Harley-Davidson
|
Honda
|
AM
(c)
|
***Haobao
|
Kasinski
|
Traxx
|
AM
(d)
|
Suzuki
|
Yamaha
|
Kawasaki
|
Em 20 de dezembro do ano passado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmava: “Houve boa recuperação do mercado nos últimos seis meses do ano. As vendas virão com impulso para o próximo ano. As desonerações foram necessárias para reativar o consumo. Se o governo não tivesse reduzido os impostos, as vendas teriam sido 30% a 40% menores do que foram. No caso do setor automobilístico, as vendas se intensificaram a partir de julho e se mantiveram em níveis acima dos registrados no primeiro semestre”, ressaltou.
O
ministro citava um estudo em que a perda de arrecadação do IPI dos veículos foi
compensada pelo aumento de outros tributos ligados às vendas. As alíquotas
reduzidas provocaram a perda de R$ 19,5 milhões diários em IPI. Em compensação,
o governo federal passou a arrecadar R$ 11,8 milhões a mais do PIS e da Cofins
por dia. Os Estados obtiveram R$ 11,1 milhões a mais de Imposto sobre ICMS e R$
2,8 milhões diários de IPVA.
Mas as
prefeituras, especialmente das regiões carentes de montadoras, registraram uma
queda nas parcelas do Fundo de Participação dos Municípios (FPE). A
Confederação Nacional dos Municípios estimou, à época, uma perda de R$ 1,5
bilhão para as prefeituras do País desde maio. Isso porque dentro dos repasses
do FPM, estão uma fatia do IPI e do Imposto de Renda. Logo, desonerações destes
tributos atingem em cheio as contas dos municípios.
“Os
municípios têm uma cota constitucional de recursos e a União concedeu isenção
com dinheiro das prefeituras. Assim, o pacto federativo está agredido.
Recentemente, ministros do Supremo Tribunal Federal decidiram no sentido de que
a concessão de benefícios fiscais por legislação infraconstitucional não pode
implicar na diminuição do repasse de receitas tributárias constitucionalmente
assegurado aos municípios. Tais decisões reverteram posições contrárias de
Tribunais Regionais, animando os tributaristas na defesa dos municípios”,
explicou o advogado Antônio Campos, irmão do governador de Pernambuco, Eduardo
Campos.
A postura
do Governo brasileiro pode ser resumida, numa linguagem coloquial, nos ditados
“dar com uma mão e tirar com a outra” ou “cobrir um santo e descobrir o outro”.
Com isso, mantém os empregos na indústria automobilística e, consequentemente,
atrai a simpatia dos sindicatos operários. Mas, vai na contramão do
ecologicamente correto e dos preceitos da mobilidade urbana, ao incentivar a
aquisição de veículos particulares.
Para se
ter uma idéia sobre o bolso do brasileiro, a dívida acumulada com o carro eleva
o risco de inadimplência e compromete o consumo de outros produtos. Moral da
história, prejudica segmentos do comércio varejista e Estados e prefeituras
recebem menos recursos do governo federal, afetando, desta forma, investimentos
públicos. Mais carros, menos recursos para dotar as cidades de vias que
comportem mais veículos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário