domingo, 4 de janeiro de 2009

LUIZ TORRES, BALUARTE DO JORNALISMO


José Torres, companheiro de longas datas, perdeu um dos seus irmãos, também amigo de muitos anos. O BlogMadrugador abre mais espaço, o que comumente não faz, para registrar o depoimento do caruaruense Torres, atualmente na Austrália, de onde retorna após ver o nascimento de uma neta.


As notícias vindas do Brasil neste início de ano, não tem sido das melhores. Ontem, dia 3 de janeiro, tomo conhecimento da morte do mano mais velho, Luiz Torres. Após oito meses internado em UTI do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, veio a óbito. Luiz, por ser primogênito de uma prole de 15, onde só sobreviveram 9, era considerado como um guru por todos nós da família. Acredito que todos, de uma maneira ou de outra, teve dele uma palavra amiga, uma orientação, enfim, serviu como guia.

De origem humilde, desde cedo soube valorizar os conhecimentos que conquistava. Assim, se tornou contabilista, correspondente de jornais da Capital pernambucana em Caruaru, sua terra natal, mais adiante primeiro gerente da então Radio Difusora de Caruaru onde por lá ficou nove anos. Nessa emissora, redigia a Crônica do Meio Dia", onde criticava, sugeria, elogiava as coisas da sua terra. Terra que ele amava como jamais se possa imaginar. E por conta da sua bravura, mais das vezes era incomprendido e pagava caro por isso. Não tinha medo de cara feia.

GRANDE REPÓRTER

As grandes reportagens do Jornal do Commercio ou do Diário da Noite, tinham sua assinatura como enviado especial, como no caso do assassinato do Bispo Dom Expedito Lopes, na cidade de Garanhuns, pelo Padre Hosana de Siqueira, as enchentes do Rio São Francisco nas cidades de Petrolina e Juazeiro, esta última no estado da Bahia, além das querelas e assassinatos havidos em Flores. Ele não tinha medo. Era um repórter arrojado. Não se prendia somente à pauta do seu editor. Ia mais além. Levava sempre ao seu lado, ou Paulo Santos ou Pissica, como seus fotógrafos prediletos, no carro alugado ao motorista George Azevedo.

Casado e com uma enorme quantidade de filhos, fez seu curso de Direito numa das primeiras turmas, senão a primeira, da Faculdade de Direito de Caruaru, a Faculdade do Dr. Tabosa de Almeida, como o povo carinhosamente denominava aquela entidade.

NO PLANALTO CENTRAL

Em 1961 migrou para Brasília levado pela mão amiga do então Deputado Federal, Antônio Geraldo Guedes, onde assumiu uma importante secretaria em que todas as cidades satélites estavam sob sua coordenação. Assumiu também a Sucursal do Jornal do Commercio naquela capital e foi o correspondende da Agência italiana Ansa. Sempre bem relacionado no mundo da política, terminou por chefiar o escritório de Pernambuco por muitos anos, de onde saiu para ser o chefe de gabinete do então Deputado Federal Tony Gel.


Na sua coluna "De Brasília", inicialmente para o Jornal do Commercio e depois por um breve período para o Diário de Pernambuco, comentava fatos e coisas da República, principalmente acontecimentos políticos que interessassem de perto seus inúmeros leitores pernambucanos.
Sempre fiel aos seus princípios políticos, jamais abandonou seus amigos ao longo de sua existência. Ao contrário, alguns deles lhe viraram as costas. Até que, o mal do alemão, o "mal de Al Zheimer" lhe surpreendeu e terminou por sugar-lhe toda sua vivacidade. Foi uma longa batalha que agora chega ao seu final.

Guardo dele as lembranças fortes de um homem dedicado ao bem estar de sua família. Da sua pontualidade, de anualmente no mês de dezembro, sair de Brasília de carro com mulher e uma penca de filhos, onze ao todo, para passar suas férias na cidade que lhe serviu de berço. Jogar conversa fora na feira de Caruaru, se encontrar com o amigo Galvão Cavalcanti e juntos com Antônio Spíndola, tomar uns drinques como aperitivo do almoço dos sábados. Depois comer o que tinha direito de comer. Aquilo que não encontrava na Capital Federal, as comidas típicas.
Nunca deixou de ir ao Distrito do Pau Santo, zona rural onde nasceu. Se refestelava com os requeijões feito pela Tia Babí e adorava conversar no alpendre da casa com Tio Marcionilo vendo o tempo passar. Outra passagem obrigatória de suas andanças, era na casa do primo Dandinho, onde Mariquinha preparava um café bem regional à moda do campo.

Carinhosamente eu o tratava de Dr. Torres e ele por sua vez, só me chamava de Zé das Torres. Nunca esqueceu a data do meu aniversário. Só a partir da doença. Resolveu partir exatamente na minha data natalícia, como forma de despedida.

São essas as lembranças que quero guardar do velho guerreiro que se foi para o outro lado da cerca, como dizia Nelson Barbalho. Adeus bravo repórter, cronista, colunista. Com certeza nos encontraremos em algum lugar mais adiante. Peça ao "sêo" Joãozinho e Dona Mariinha, que nos abençoe cá embaixo.

Adeus Dr. Torres.

(Adelaide-SA, 04.01.09 – 11:hs42)
Foto: casal Luiz e Ivete Torres numa festa natalina em Caruaru (Pernambuco-Brasil)

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