sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

NORTE MADRUGADOR (XXVI)

ESPECIAL

Um pouco de luz nesta vida




As noites já não são a mesma rotina na Colocação Deserto, no Seringal Nazaré, no coração da Reserva Extrativista Chico Mendes. O dono da colocação, Feliciano Nonato Facau, popularmente conhecido como “Seu Tonico”, aos poucos vai aposentando as lamparinas a óleo diesel ou querosene, que a 22 anos se constituíam na única fonte de luz após o escurecer, para dar lugar a um equipamento inovador.
Localizada a doze quilômetros do principal ramal que corta a reserva, Deserto até pouco tempo fazia jus ao nome e era a típica comunidade isolada, com quase nenhuma infra-estrutura. Gradativamente, no entanto, a situação vai mudando e hoje a casa de Tonico é mais um núcleo da experiência do Fogão BMG Lux (a sigla BMG significa Bio Micro Gerador), miniusina termomecânica que ao mesmo tempo cozinha e produz eletricidade. O fogão atende residências onde há dificuldade para se levar a rede convencional de luz elétrica.
Tonico e a família podem agora considerar-se incluídos no processo de energização das comunidades remotas, servindo de modelo e referência para outros projetos. Das 27 unidades instaladas pelo Governo do Estado através Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac) em outubro do ano passado, vinte funcionam normalmente. Esse número é visto como sinal de sucesso na experiência. De acordo com Ronaldo Sato, inventor do fogão, 75% das famílias que participaram dos testes se adaptaram bem ao equipamento.
Vantagens socioambientais do BMG Lux Não há contato com a fuligem ocasionada pela queima da lenha, que é a oitava causa de morte no Brasil; Produz energia para ligar três lâmpadas e uma TV ou rádio, que amplia as possibilidades de informação em comunidades distantes; Ser um modelo de utilidade de simples manejo para a dona de casa; Utilizar componentes nacionais; Ambientalmente correto; Economizar o consumo de biomassa; Reduzir o nível de fumaça com melhor aproveitamento da combustão na queima da biomassa.
Primeiros fogões foram transportados nas costas até os locais de instalação


Os primeiros kits do BMG Lux (na época denominado Geralux) foram levados em caminhões até a comunidade Rio Branco, no Seringal Floresta. Dali, seguiram conduzidos em camionetas até a entrada dos varadouros e levados nas costas até as residências dos beneficiários. Os equipamentos foram carregados pelos trabalhadores dos programas Luz Para Todos e Centro de Referência de Energia Alternativa da Funtac, em caminhadas que duravam mais de uma hora mata adentro. Devido ao peso, alguns foram transportados sem a caixa de madeira de 22 quilos. Na época, um caminhão ajudou na remoção dos fogões.
Novas unidades serão ainda mais práticas


A série de problemas próprios de um sistema em adaptação são sempre solucionados pelos técnicos da Energer Energias Renováveis Ltda., a empresa que irá fabricar o Bio Micro Gerador em Rio Branco. Como a vida no campo é bastante corrida, as donas de casa quase sempre não têm tempo de esperar o fogo ideal para preparar o café, o almoço ou o jantar e optam por usar o fogareiro de barro. “Dá um fogo mais rápido”, diz Vera Nogueira, moradora da Colocação Prato II, no Seringal Nazaré.
Os próximos fogões BMG terão uma chapa mais fina, o que reduzirá em até 28% o tempo do aquecimento ideal para preparar alimentos. Na versão atual, o BMG Lux tem sido mais frequentemente usado para assar pães e bolos.
De acordo com o técnico Willeney Reis, da Energer, os problemas mais frequentes podem ser resolvidos pelo próprio usuário. Em muitos casos, uma simples limpeza resolve a deficiência e põe o fogão para funcionar normalmente.
O ruído do motor é fonte de incômodo para muitas pessoas. A Energer deve em breve substituir o motor atual por uma turbina, quase sem ruído. O peso do fogão já foi reduzido substancialmente, saindo dos 160 quilos para pouco mais de 130 quilos. A expectativa é de que as adaptações o deixem ainda mais leve, pois transportá-lo às comunidades isoladas é uma operação de guerra.
Uma cartilha deverá ser produzida para facilitar o conhecimento e a manutenção da máquina. Quem mais opera com o fogão são as mulheres. Crianças como Rigelho Nogueira, 12, ajudam a mãe, Vera, a trabalhar com o BMG Lux: “No tempo em que a gente usava lamparina era ruim de estudar à noite. A luz do fogão é muito melhor”, diz o jovem.

Notícia Publicada no jornal “Página 20”, de Rio Branco - AC
http://www.pagina20.com.br/
Matéria selecionada por Andressa Anjos, colaboradora deste Blog.

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