quarta-feira, 29 de outubro de 2008

INDICAÇÃO DE LEITURA


Por Que Almocei Meu Pai, de Roy Lewis

Por Andressa Anjos

– Nós vencemos! – todos gritaram incrédulo, animadíssimos. – Nós vencemos!
– Claro que nós vencemos – Papai disse. – E que isso sirva de lição para vocês. A natureza não está necessariamente ao lado dos grandes batalhões. A natureza prefere apoiar as espécies tecnologicamente superiores. Ou seja, nós, por enquanto. (p.25)

Escrito pelo jornalista e sociólogo Roy Lewis, Por Que Almocei Meu Pai descreve, de forma cômica e inusitada, o processo evolutivo do homem pré-histórico. Ao falar sobre a dominação do fogo, a instituição da exogamia, a utilização de novas ferramentas oriundas da pedra lascada, Roy permite que o leitor conheça um mundo extinto, porém não muito diferente do atual. A questão proposta para discussão provém do trecho citado acima e diz respeito ao fato do Homem se considerar a espécie tecnologicamente superior.

Evolução pode ser definida como um processo ininterrupto que consiste numa série de modificações graduais responsáveis pela transformação de formas inferiores em outras mais complexas. É uma questão muito abrangente e que atinge diversas áreas, dentre elas, a Biológica e Tecnológica.

De acordo com a Teoria Evolucionista de Charles Darwin, por meio do processo de Seleção Natural os indivíduos com características mais favoráveis à sobrevivência e à reprodução bem sucedida puderam se adaptar ao ambiente e, assim, se expandir. O Homem, segundo a Biologia, pertence à espécie de maior grau de complexidade na escala evolutiva. Distinguindo-se, por isso, dos demais seres, é classificado como a única espécie racional, conseqüentemente, a de maior capacidade cognitiva para uma rápida adaptação ao meio. Tal explicação confirma, portanto, a afirmação de que o Homem é a espécie tecnologicamente superior.

Apesar do alto nível evolutivo e da alta complexidade biológica, o ser humano se torna diminuto pelo caráter egoísta, estabelecendo relações de superioridade com ele mesmo. Movido pelo jogo de interesses, pela disputa de poderes e pela fome de sabedoria, vive num campo de batalha onde impera a lei do mais forte. Característica da modernidade e do mundo globalizado, em que concorrência é sinônimo de guerra? Não. Essa atitude, esse modo de viver, tem origem na Pré-História.

Por Que Almocei Meu Pai não é uma simples narrativa sobre o período Pleistoceno, com um título irreverente e reflexivo, mas sim, uma obra que transporta a realidade do passado para o presente. “Considero que os resultados da pesquisa devem estar disponíveis para toda a subumanidade... Assim, trabalharemos todos juntos para criar um conjunto de conhecimentos do qual todos se beneficiarão.” (p. 134). O ideal solidário provocou, na ficção do livro, atos hediondos. Na realidade atual, não seria diferente. Após anos de evolução os pensamentos egocêntricos do Homem permanecem e se acentuam, “quando todos possuírem um arco...

A força e a habilidade deixarão de fazer diferença.” (p.153). Na verdade, o Homem não está satisfeito com sua condição de espécie tecnologicamente superior. Pretende ser superior ao próprio Homem. Talvez, essa ambição possa acarretar numa autodestruição.

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