
O economista Leonardo Guimarães (foto), sócio da empresa Ceplan Consultoria e Planejamento, mostra, neste arigo, como entender a crise financeira, a partir das lições do economista norte-americano Minsky. O economista norte-americano Hyman Minsky, formado pela Universidade de Harvard, falecido em 1996, ensinou em várias universidades dos Estados Unidos (Brown, Berkeley e Washington). Em seus trabalhos, resumiu, as etapas seguidas pelas crises recentes do capitalismo.
Em diversas versões, a imprensa, na sua análise da presente crise, tem reexaminado as idéias de Minsky, que muito ajudam no entendimento do que está ocorrendo. Em termos gerais, as etapas concebidas pelo referido economista podem ser assim resumidas:
(i) a de perturbação ou deslocamento, na qual os investidores são atraídos por alguma inovação, como o surgimento das empresas de tecnologia da informação, por segmentos tradicionais que são considerados pelos especuladores sob uma nova perspectiva, como a construção civil; ou por mudanças na política, como a redução da taxa de juros;
(ii) a etapa de corrida dos investidores para determinadas aplicações cujos preços aumentam aceleradamente e possibilitam ganhos fáceis e imediatos;
(iii) a de euforia, na qual os bancos e instituições financeiras ampliam o crédito, mesmo para devedores duvidosos, e são criados novos instrumentos financeiros;
(iv) a etapa em que os investidores mais espertos saem do mercado e embolsam os seus ganhos, embora grande parte dos aplicadores prossiga na expectativa de continuidade da alta dos preços no futuro;
(v) finalmente, a etapa de pânico caracterizada pelo declínio dos preços, pela escassez e desaparecimento dos compradores, pelo fim do crédito fácil e por um dramático efeito, como a quebra de bancos ou instituições financeiras que, com maior intensidade, se expuseram à especulação.
Estas etapas foram, grosso modo, seguidas tanto na chamada bolha das empresas de informática, quanto na bolha imobiliária mais recente. Nelas é importante considerar, sobretudo, na etapa de euforia, o papel dos bancos e instituições financeiras os quais alimentam a corrida dos especuladores, não só através do crédito fácil como do estímulo e convencimento dos seus clientes. A fase inicial, associada às mudanças ocorridas sejam inovações ou alteração rápidas e inesperadas, na visão de Minsky, tem como ponto de partida a situação na qual os empreendimentos produtivos, ao obterem altos lucros, passam a fazer aplicações financeiras em busca de ganhos imediatos e especulativos.
Um aspecto relevante que o referido autor ressalta é a permanente vinculação entre o sistema financeiro e a produção e emprego. Além de chamar a atenção para a grande oscilação do sistema financeiro entre uma situação de normalidade e robustez para outra de extrema fragilidade, destaca os impactos dessa oscilação sobre o sistema produtivo do que resulta a instabilidade e o comportamento cíclico de toda economia.
Embora a regulação e a criação de um arcabouço institucional possam minorar a crise, reduzir a instabilidade e seus impactos sociais, o sistema capitalista tende a repetir seu comportamento cíclico. A “festa de Wall Street”, para usar a expressão da presidente da câmara de deputados norte-americana, poderá ser menos ruidosa e ruinosa, mas sempre estará presente. Seus efeitos vão depender do nível de regulação que a sociedade tenha capacidade de exercer sobre o sistema financeiro e sobre a ação nefasta dos especuladores.
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