quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

NÃO SE LEVOU A SÉRIO O TRABALHO DE CELSO FURTADO


Há mais de 50 anos, o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN), coordenado por Celso Furtado, chamava a atenção para a fragilidade do solo e do clima na área semi-árida. Esses fatores mostravam o perigo de uma ocupação humana acima da capacidade do meio ambiente. Em outras palavras: muita gente, onde há pouca terra agricultável e impera a irregularidade climática, é apostar no imponderável, é levar as mãos aos céus dia e noite, noite e dia.

Se isso já não fosse um obstáculo à ocupação desordenada dos sertões nordestinos, os técnicos propunham mudanças na estrutura fundiária, defendiam a redução da agricultura de subsistência e apontavam, como um fator fundamental para a mudança econômica e social no semi-árido, a incorporação das famílias à economia de mercado. Em outras palavras: não adianta levar apenas água para uma região carente de recursos naturais, fragilizada pela estrutura fundiária e dependente de uma agropecuária com baixos rendimentos.

Mais uma vez, a falta de chuvas volta a ocupar o noticiário, com a decretação de estado de emergência em mais de 400 municípios, sendo 60 só em Pernambuco. A essa altura, os defensores da transposição devem aproveitar a deixa para torpedear o bispo de Barra. Certamente: “se a transposição já tivesse sido feita, não haveria esse quadro”.

Errado. O quadro vai existir, enquanto não houver mudança na estrutura fundiária e as famílias não forem incorporadas à economia de mercado. Um exemplo está no Araripe, para onde a água do São Francisco é levada praticamente para todas as sede municipais e a alguns distritos. No entanto, a adutora do Oeste só resolveu o problema das cidades. Na zona rural, a situação é idêntica à da época do GTDN, como constatou a Coordenaria de Defesa Civil de Pernambuco.

A única exceção nisso tudo está, obviamente, às margens do São Francisco, onde impera a agricultura irrigada, e nas áreas sob a influência dos grandes açudes cearenses, onde se pratica uma agricultura moderna, voltada principalmente para o mercado externo.
OBSERVAÇÃO:
A foto é da Wikipédia, a enciclopédia livre

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