A presidente e o dragão
Jornalistas, economistas, comunistas, anarquistas, nazistas
e todos os “istas” sabem que a inflação reduz o poder de compra dos
assalariados, achata as conquistas do Bolsa-Família e aniquila os aposentados,
considerados os “responsáveis” pelos déficits da Previdência.
A presidenta Dilma Rousseff não pensa assim. Inflação para
ela é a cereja do bolo do crescimento. Ela foi clara em Durban, na África do
Sul: “eu não concordo com políticas de combate à inflação que olhem a questão
da redução do crescimento econômico”. As palavras não só despertaram o efeito
psicológico da alta dos preços, como passaram a idéia de falta de comando do
Banco Central.
O professor Ossami Sakamori, da Universidade Federal do
Paraná, comenta, no Blog Aposentado! Solte o Verbo, o aumento, no começo deste
mês, do diesel em 5%. Para Sakamori, “apesar de governo tentar gambiarra
para repassar menos possível na bomba, ainda assim, vai provocar novo aumento
generalizado no produto de consumo doméstico. É o efeito cascata, psicológico.
Delfin Neto, já dizia que inflação tem componente psicológico. E como tem. Os
alimentos em janeiro subiram uma média de 14%, uma boa parte provocado na cola
do aumento de combustíveis. Mês de março, tem o componente psicológico do
aumento do diesel. Haja coração!”.
Apesar de o deputado Rubens Otoni (PT-GO) não acreditar em
inflação no Brasil e culpar a imprensa, que “procura criar um clima de pânico
em torno de um descontrole do processo inflacionário”, a presidente Dilma vê no
dragão da economia um forte aliado no crescimento do PIB, pois a fera gosta de
PIBÃO, não de Pibinho.
Diante do afago ao monstro econômico-zoológico, o mercado
reagiu, temeroso de uma escalada de preços motivada pelo efeito psicológico das
palavras da presidente. E para completar a intempestividade de seu raciocínio,
atribuiu ao mercado uma interpretação errônea de sua declaração.
No final das contas, o dragão retorna à selva brasileira,
onde imperam o descrédito da classe política, o lançamento inopinado da
campanha eleitoral, a queda do PIB, as medidas pontuais (isenção de IPI dos
veículos) e o aceno à inflação.
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