sábado, 30 de março de 2013



A presidente e o dragão

 Os brasileiros com 10 anos em 1993 só sentiam os efeitos da inflação se trabalhassem para sobreviver ou dependessem da mesada dos pais. Em dezenove anos, a inflação tornou-se uma lenda para todos nós. Mas, em 2013, o dragão, classificação zoológica da elevação persistente e generalizada dos preços, nem parece preocupado com o Santo Guerreiro. O bicho que bota fogo pelas ventas sabe a hora certa de dar o bote. Ele conhece as fraquezas da economia.


Jornalistas, economistas, comunistas, anarquistas, nazistas e todos os “istas” sabem que a inflação reduz o poder de compra dos assalariados, achata as conquistas do Bolsa-Família e aniquila os aposentados, considerados os “responsáveis” pelos déficits da Previdência.

A presidenta Dilma Rousseff não pensa assim. Inflação para ela é a cereja do bolo do crescimento. Ela foi clara em Durban, na África do Sul: “eu não concordo com políticas de combate à inflação que olhem a questão da redução do crescimento econômico”. As palavras não só despertaram o efeito psicológico da alta dos preços, como passaram a idéia de falta de comando do Banco Central.

O professor Ossami Sakamori, da Universidade Federal do Paraná, comenta, no Blog Aposentado! Solte o Verbo, o aumento, no começo deste mês, do diesel em 5%. Para Sakamori, “apesar de governo tentar gambiarra para repassar menos possível na bomba, ainda assim, vai provocar novo aumento generalizado no produto de consumo doméstico. É o efeito cascata, psicológico. Delfin Neto, já dizia que inflação tem componente psicológico. E como tem. Os alimentos em janeiro subiram uma média de 14%, uma boa parte provocado na cola do aumento de combustíveis. Mês de março, tem o componente psicológico do aumento do diesel. Haja coração!”.

Apesar de o deputado Rubens Otoni (PT-GO) não acreditar em inflação no Brasil e culpar a imprensa, que “procura criar um clima de pânico em torno de um descontrole do processo inflacionário”, a presidente Dilma vê no dragão da economia um forte aliado no crescimento do PIB, pois a fera gosta de PIBÃO, não de Pibinho.

Diante do afago ao monstro econômico-zoológico, o mercado reagiu, temeroso de uma escalada de preços motivada pelo efeito psicológico das palavras da presidente. E para completar a intempestividade de seu raciocínio, atribuiu ao mercado uma interpretação errônea de sua declaração.

No final das contas, o dragão retorna à selva brasileira, onde imperam o descrédito da classe política, o lançamento inopinado da campanha eleitoral, a queda do PIB, as medidas pontuais (isenção de IPI dos veículos) e o aceno à inflação.


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