Apoiado por denúncias do deputado federal José Pimentel (PT-Ceará), Fernando Henrique Cardoso fechou a Sudene para abrir a Adene, uma agência sem nada, para nada. Protestos de alguns políticos e de empresários beneficiados com os sistemas de incentivos.
À época, questionei a decisão na coluna de Economia do Diário de Pernambuco. A reação tinha motivo de ser. Ruim com ela, pior sem ela. Com essa linha de raciocínio, estava, na realidade, defendendo a reintrodução do planejamento regional, a injeção de recursos federais no Nordeste e, no final das contas, estranhando o porquê de órgãos federais, como o DNOCS, permanecerem abertos, apesar de serem controlados, há décadas, por oligarquias nordestinas.
Na campanha eleitoral, o pernambucano Luís Inácio Lula da Silva, diferentemente do que pensava parte do PT, aí incluído o cearense José Pimentel, prometeu reabrir a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. Os que defendiam a volta da Sudene acreditaram na promessa de Lula. Proposta idêntica fez José Serra. Ninguém acreditou. A visão paulista do candidato tucano não combinava com a promessa.
Lula eleito, o retorno da Sudene voltou ao noticiário, principalmente nos veículos nordestinos. Grupo de trabalho foi criado. A economista Tânia Bacelar foi indicada para coordenador os trabalhos. Uma luta insana. A ex-diretora de Planejamento da antiga Sudene chegou a viajar utilizando as milhas amealhadas ao longo dos anos.
A Sudene para ser recriada e ter a força que dispunha à época de Celso Furtado deveria se apoiar em dois pilares: subordinação direta à Presidência da República e recursos para gerir o desenvolvimento regional.
Em outras palavras, criar a Sudene pura e simplesmente de nada adiantaria. Os militares, com o apoio de governadores biônicos e de chefes de Executivo estaduais sem visão regional, transformaram a Superintendência num conselho homologatório das decisões de Brasília.
Uma Sudene ligada ao presidente da República e apta a voltar a coordenar o desenvolvimento regional não era bem vista por políticos da região. Eles não teriam como influenciar na aprovação de projetos.
E o golpe foi dado, ao passar para a alçada do Ministério da Integração Nacional. As propostas do grupo de trabalho coordenado por Tânia Bacelar foram arquivadas. Lula terminou o primeiro mandato e a Sudene passou a ser a última prioridade.
Aos oito meses do segundo mandato, o presidente da República anunciou, com estardalhaço, a recriação de uma Sudene sem dinheiro e sem poder. Passados dois meses, nem os diretores foram nomeados. Governadores nordestinos da base aliada do Presidente da República disputam cargos na autarquia.
Recriar a Sudene sem ter quem a dirija é a mesma coisa que dar à luz um bebê e, à semelhança da história dos fundadores de Roma, entregá-lo aos cuidados de uma loba. Como a história só se repete como farsa ou tragédia, a recriação da Sudene não passa de um mito. Aí é semelhante à fantasia sobre a fundação de Roma.
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
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